30/10/2020

Guerra dos Mundos

   O rádio foi, e é, a maior revolução dos meios de comunicação em todos os tempos. Cinema, TV e agora, a Era Digital, não são capazes de fazer o que o rádio é capaz de realizar. O rádio se adapta aos tempos. Se transforma. Se reinventa. No dia 30 de outubro de 1938, um programa de rádio, simulando uma invasão extraterrestre, desencadeou pânico na costa leste dos Estados Unidos. Parecia uma noite normal naquele 30 de outubro de 1938, até que a rede de rádio CBS (Columbia Broadcasting System) interrompeu sua programação musical para noticiar uma suposta invasão de marcianos. 
    Em “edição extraordinária”, a notícia, na verdade, era uma peça de radio-teatro, que não só ajudou a CBS a bater a emissora concorrente (NBC), como também desencadeou pânico em várias cidades norte-americanas. "A invasão dos marcianos" marcou definitivamente a história do rádio. A partir da dramatização de um livro de ficção científica, A Guerra dos Mundos, do escritor inglês Herbert George Wells, o programa simulou, em linguagem jornalística, a chegada de marcianos a bordo de naves extraterrestres à cidade de Grover's Mill, no estado de New Jersey. Os méritos da genial adaptação, produção e direção da peça eram do então jovem e quase desconhecido ator e diretor de cinema norte-americano Orson Welles, que viria a produzir e dirigir o filme Cidadão Kaine, anos mais tarde. O Daily News referiu-se ao programa com a manchete "Guerra falsa no rádio espalha terror pelos Estados Unidos". 
    A dramatização deveria ser uma brincadeira às vésperas do Halloween (dia das bruxas), foi apresentada com características do radiojornalismo da época, às quais os ouvintes estavam acostumados, tomou proporções gigantescas e imprevisíveis. Reportagens externas, entrevistas com testemunhas que estariam vivenciando o acontecimento, opiniões de peritos e autoridades, efeitos sonoros, sons ambientes, gritos, a emoção dos supostos repórteres e comentaristas. Tudo dava impressão de o fato estar sendo transmitido ao vivo. Era o 17º programa da série semanal de adaptações radiofônicas realizadas no Radioteatro Mercury por Orson Welles. 
    A produção encarregou-se da dramatização e sonorização que induziram o público à ver como reais, os fatos narrados. A CBS calculou, na época, que o programa foi ouvido por cerca de seis milhões de pessoas, das quais metade o sintonizou quando já havia começado o programa, perdendo a introdução que informava tratar-se do radio-teatro semanal. Pelo menos um milhão e meio de pessoas acreditou ser um fato real, gerando o estado de pânico.     A transmissão chegou a ser captada por outras emissoras de rádio do centro oeste norte-americano que multiplicou o efeito, levando-o até a costa oeste, sempre através do rádio. O pânico chegou a paralisar três cidades, principalmente em localidades próximas a Nova Jersey, de onde a CBS emitia e onde Welles ambientou sua história. Houve fuga em massa e reações desesperadas de moradores também em Newark e Nova York. A peça radiofônica, de autoria de Howard Koch, com a colaboração de Paul Stewart e baseada na obra de Wells (1866-1946), ficou conhecida também como "rádio do pânico", em roteiro escrito pelo próprio Welles (1915-1985) que, na peça, fazia o papel de professor da Universidade de Princeton, que liderava a resistência à invasão marciana. 

Guerra dos Mundos no Brasil 

 Em 1971, a rádio Difusora, de São Luiz do Maranhão, empreendeu idêntico evento. Inspirado no acontecimento radiofônico de Well, em 1938, produziu intensa narrativa, em formato jornalístico sobre a invasão de marcianos. 
    A simulação, entretanto, foi interpretada pelo regime militar, como uma tentativa de levante revolucionário convocada em código. A ação do exército foi rápida e terminaram todos os protagonistas do programa, presos, bem como a rádio fechada. Imagino o serviço de “inteligência” do regime interpretando mensagens em código e tentando descobrir o que seriam os marcianos. Para não esquecer, Marte é conhecido como Planeta Vermelho...     Quando parar de rir, vou investigar estes acontecimentos em comparação com o que chamamos “fake News” nos dias de hoje, em tempos de terraplanismo, negacionismo e “burrismo”... 
    Nos anexos, vídeos contando as histórias destas duas aventuras de Guerra dos Mundos, na matriz (1938) e na filial (1971)...  
 

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