
Segundo a lenda, Don Melchor
observou que eram frequentes os roubos de garrafas dos seus melhores vinhos, guardados
na adega original da propriedade. De nada adiantavam as providências para a
segurança e proteção dos preciosos vinhos, e cada vez mais desapareciam garrafas,
o que levou o fundador a crer que seus próprios empregados estariam envolvidos
na pilhagem constante.
Don Melchor teve a ideia de
espalhar boatos de que, numa macabra parceria com o Diabo, este teria sido
convidado a morar da adega, passando a guardar os vinhos ali depositados.
Rapidamente o boato se espalhou e os trabalhadores, camponeses e habitantes da
região, muito supersticiosos, passaram a crer que o Diabo, realmente, vivia
ali. Por esta razão ou não, o fato é que os roubos reduziram a, praticamente,
zero. Com o tempo, o boato virou lenda, e a lenda, atualmente, virou excelente
estratégia de propaganda e marketing do maravilhoso vinho chileno.
Bem, Don Melchor era um grande
proprietário de terras num Chile, quase feudal, no século XIX. Desde este
tempo, a população branca de imigrantes e seus descendentes, somados à
aristocracia colonial local, explora as riquezas daquelas terras à exaustão,
tanto da natureza quanto das populações originais locais, compostas basicamente
de índios e mestiços, somando à eles, parcelas de imigrantes pobres, na maioria
degredados da Europa, assim como aconteceu com a maioria dos colonos que ajudou
a construir a histórica massa populacional pobre das Américas.
Pois o boato-lenda do
latifundiário e senhor de terras e pessoas, branco-europeu, rico e explorador,
cujo poder é capaz de dar emprego ao Diabo, para proteger suas riquezas e não
dividi-las, sob nenhuma hipótese com aqueles pobres e mal sucedidos, nos remete
aos tempos atuais e notamos que, ao longo da história, a elite branca e
poderosa usa meios e artifícios diversos, manipula, inventa histórias
escabrosas, faz qualquer negócio para não repartir um só centímetro do que tem,
mesmo sendo fruto da usurpação, da ocupação indevida de terras e exploração desta
terra e dos meios de produção.
O Diabo, aliado de hoje, é a
lenda da invasão comunista. Curiosamente também sob o estigma da cor vermelha,
comunistas, socialistas, petralhas, sindicatos e tudo aquilo que “não presta”,
aos olhos dos donos do novo mundo e seus feitores, numa roupagem moderna, recebem
a pecha de Diabo para que se construa uma lenda abençoada por Deus, e passam a constituir
uma ameaça. A lenda macabra, agora, é um espectro criado em defesa do patrimônio
da elite e seus sagrados direitos sobre a terra e tudo o que nela contem, e
surge para assombrar trabalhadores, camponeses e gente ingênua, desprovida e
pobre.
Interpretando a metáfora, na América
moderna, Deus e o Diabo são usados sem escrúpulos para atuar como feitores e
guardas do patrimônio da elite e pela manutenção do status quo, através de lendas e assombrações.
Vídeo da Lenda, em Espanhol:
Vídeo da
Lenda, em Português:
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