06/10/2017

Praxes

Lorenzo Anflor
 
Olá pessoal, estive há alguns dias sem postar, mas por um bom motivo. E um motivo muito cansativo: As Praxes. Para aqueles que não sabem, assim como eu quando cheguei, as praxes são o trote versão portuguesa, uma tradição seguida à risca aqui. Uma semana e meia de poucas horas dormidas, exercícios, atividades, cheiro ruim e um pouco de sofrimento. Sequer sei por onde começar, então vou pelo início (tu dizzz).

Primeiro uma curiosidade que achei pertinente falar: estou comendo ovos mexidos em uma caneca/leiteira - que também é meu copo. É assim que estou me virando por aqui.

Mas voltando para o assunto: o 1º dia. Ninguém sabe nada, onde está, sequer seu próprio nome. Todos os brasileiros ali pensam a mesma coisa: "meu deus, se eles vierem pra cima de mim vou bater neles, com certeza". Recebemos um cancioneiro, com todas as canções do curso - que eu não curti muito. É realmente assustador. A partir desse dia somos chamados de bestas (o equivalente a bixo, no Brasil) e somos praxados pelos nossos Acadêmicos, que estão no 3º e último ano de curso, tendo que fazer tudo que eles disserem. Existe uma hierarquia (que eu acho meio idiota, por sinal) na Universidade: Bestas (calouros), Peru (você se torna isso no dia da alcoolização do peru, no final das praxes), Mancebos (2º Ano), Acadêmicos (3º ano) Veteranos e Velhas Guardas (não sei qual vem antes e qual vai depois). Nós, bestas, não podemos olhar em seus olhos. Passamos horas a olhar o chão, onde nos perguntam os nomes dos(as) acadêmicos - e a resposta é sempre excelentíssimo, digníssimo e sempre bela acadêmica... - fazendo danças, flexões, rolando no chão. Alguns mancebos brasileiros conversaram com as bestas brasileiras, para explicar como é e nos tranquilizar, o que foi de imensa ajuda.

Tiveram várias atividades diferentes: um dia escorregamos em uma lona com sabão e água, outro fomos sujados com ovo, tomate, água de bacalhau, vinagre e muito mais coisa. Sinceramente, nem quero saber o que jogaram em mim. Vários jantares nas casas dos acadêmicos, disputas musicais entre cursos (PSICOLOGIA OLE OLE PSICOLOGIA OLE OLE). Ainda, houve o jantar de curso. Que noite boa. Todo o curso de psicologia reunido, separados em mesas de acordo com o número de matrículas, bebendo e cantando. E como bebi e cantei.

Uma das semanas mais cansativas em minha vida, em que a rotina era: praxe, aula, praxe, jantar na casa dos acadêmicos (praxe incluída) e festa. Nada fazia sentido. Eu estava tão cansado que as informações não se processavam na minha cabeça. Errava o nome do/a acadêmico/a, pagava (flexões, prendas, danças) para logo após esquece de novo. No jantar, comia com os pulsos amarrados nas outras bestas, e, geralmente, com a parte de trás do talher.

E você deve estar se perguntando, por que? Por que eu fiz tudo isso? Porque é bom. Apesar de todos os apesares, o cansaço, a fome, a raiva, é bom. A Praxe é uma atividade de integração onde - segundo meus acadêmicos - construímos uma família. Todos ali vão passar 3 anos estudando juntos, vão fazer as provas juntos, vão ter dificuldades juntos. E a besta é sempre solidária! Nós "sofremos" juntos nas praxes e nos ajudamos. É assim que nossa vida universitária vai ser. Somos mais de 60 calouros e mais mancebos, acadêmicos e todo o resto do curso, e juro que conheço uns 80% deles graças as praxes. Havia uma maneira mais fácil de fazer isso? Sim. Mas essa ideia foi interessante e, nos altos e baixos, teve um saldo positivo para mim.

No último dia, o dia do desfile, escolhemos nossos padrinhos/madrinhas. Infelizmente não consegui ir no desfile (graças à burocracia portuguesa que funciona - ou melhor, não funciona - muito parecido com nosso Brasilzão. Cheguei à tempo de ser batizado com água de bacalhau (que estava guardada há dois anos) e cerveja, diretamente no cabelo. Ainda sinto o cheiro quando vou tomar banho. Depois ainda dei um abraço em minha madrinha, que ficou com um pouco do perfume.

Essas foram as praxes. Infelizmente deixei muita coisa de fora desse texto - como a quinta acadêmica open bar de cerveja ;) - mas espero que tenham gostado e entendido tudo. As praxes, apesar de momentos em que você só quer sair dali, ganharam meu selo de aprovação!


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